O convite a reflexão de um viajante sobre sobre a vida comum.

O dia a dia nos consome. Temos planos, problemas, rotinas e uma série de atividades que são necessárias à sobrevivência. Mas no fim do dia, tenho a vida que quero? Que horas eu acordei, o que comi e com quem conversei são pontos intermediários entre meus pensamentos, expectativas, sonhos e, novamente, no fim do dia eu penso… Tenho a vida que quero?

Pico do Marins, SPOs sonhos são importantes para alimentar nossa esperança. A esperança é importante para alimentar nossos esforços. Então, estamos alimentando os esforços que saciarão esses sonhos? Aqueles que se pegam imaginando contextos, cenários e possibilidades de tempos em tempos entendem a que me refiro. Imaginar como será aquela viagem, o que faria se ganhasse na loteria, o que será possível com aquela promoção, como será linda a vida com aquela companhia. No final das contas, tudo isso flui tão naturalmente que acredito que seja esse o caminho natural da vida. Buscar, cada um a sua maneira, o conforto, a realização pessoal, a soma dos elementos que traduziremos como plenitude.

Neste momento me pergunto: o que seria essa plenitude?

O que falta à vida para a sonhada plenitude? Para chegar naquele estágio em que certo e errado não fazem mais parte do cotidiano? Eles não deixam de existir, mas simplesmente não fazem diferença, porque na plenitude o equilíbrio acontece de tal forma que a ansiedade, a paz, o amor, a saúde, a alegria, o medo, a insegurança são plenos e não precisamos buscar sua compensação.

Ser um viajante é uma das maneiras mais eficazes que conheço para se atingir a plenitude. É a atividade que permite com que nossos valores sejam redefinidos. Sou mesmo pobre? Estou mesmo confortável? Tenho, de fato, segurança? Preciso, verdadeiramente, de certas coisas? Sou inteligente? Sou autoconfiante? Todos estes questionamentos não precisam ser feitos enquanto viajantes, porque seremos apresentados a um contexto onde tudo será naturalmente redefinido.

No filme A vida secreta de Walter Mitty vejo um personagem fabuloso que redefine a sua vida de maneira incrível quando tem coragem de buscar algo que ele precisa: superar o medo para deixar de ser um coadjuvante. Afinal, o que ele perderia? No filme, o que de fato ele encontra após vencer o medo e a inércia é basicamente algo que ele talvez nunca tivesse conhecido… Ele mesmo. Todas as inseguranças normais do dia a dia são resinificadas quando ele passa a conhecer, através da viagem, quem realmente ele é.

De repente, um gerente de seção de negativos, que praticamente nunca havia realizado nada em sua vida, se envolveu em uma viagem e essa experiência o transforma na pessoa que ele, até então, somente sonhara em ser. Groelândia, Islândia, Himalaia e Iêmen foram alguns de seus destinos pouco usuais, que certamente não estão dentre pacotes turísticos populares. A experiência de estar verdadeiramente sozinho o permite refletir sobre tudo que realmente importa em sua vida.

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Nós não somos somente aquilo que pensamos ou aquilo que sonhamos. Nós somos, pura e simplesmente, o resultado do que vivemos. A discussão pelo certo ou errado, justo ou injusto, ter ou não ter são resultados diretos da forma como decidimos viver. E só há uma pessoa que pode transformar isso.

Talvez o destino onde quero chegar seja somente a justificativa para a jornada que quero viver.

Revisão de texto: Lais Tellini (MTB 65307SP)