É o progresso, assim anunciavam as manchetes no início do século 20, quando “a todo vapor” a revolução das máquinas iniciaram uma profunda mudança na vida das pessoas. No inicio deste século o Brasil inaugurava os primeiros bondes como transporte publico em São Paulo e Rio de Janeiro e neste mesmo período a indústria naval galgava revoluções inquestionáveis e o Schönbrunn está vivo para contar esta história.
A fabricação de navios movidos a vapor permitiu embarcações resistentes, valentes e velozes, capazes de carregar maior volume de carga e com grande autonomia. E nesta época, não há como não recordarmos do ícone Titanic, que em 1912, em sua viagem inaugural do maior e mais luxuoso navio até então, teve seu infausto fim nas profundas águas de Newfoundland.
Contudo, a tecnologia que movia o Titanic, apesar de sua comprovada fragilidade em baixas temperaturas, ainda é considerada uma obra prima da engenharia e graças a toda esta robustez temos o navio Schönbrunn em plena atividade nos dias atuais.
Diferente de seu parente que se encontrou com um Iceberg em uma região, cujo metal fora fragilizado pela baixa temperatura, a Linda Morena, significado do alemão para o nome Schönbrunn, teve a sorte de ter sido construído pela DDSG para navegar pelos rios Europeus, sendo sua base principal em Budapeste no Rio Danúbio. DDSG é o acrônimo para Erste Donau Dampfschiffahrts Gesellschaft que significa em português, algo como “Primeira companhia de navio a vapor do Danúbio”.
Construído na Hungria, em Budapeste, o navio originalmente tinha capacidade para 950 pessoas incluindo os aproximados 30 membros de sua tripulação, nas variadas funções para atender as máquinas e as pessoas. Nos dias atuais a capacidade foi reduzida a 600 por segurança, mas são tranquilamente transportados pelo expressivo e bem conservado motor a vapor movido por dois pistões, basicamente a mesma tecnologia do seu primo que teria a mesma idade, o Titanic.
Mas se engana quem pensa que a história deste navio passou sem dificuldades em seus mais de cem anos. Na segunda guerra, o Schönbrunn participou como navio hospital ao longo do Rio Danúbio e em 1954 teve sua primeira grande reforma que transformou o sistema de aquecimento de queima de carvão para queima de combustível e assim o é até os dias atuais.
Toda a manutenção deste navio é feita preservando seus aspectos originais. As peças, quando necessárias, são fabricadas manualmente replicas de suas originais e assim o Schönbrunn caracteriza o navio a vapor original mais antigo na Europa ainda em funcionamento.
Mais adiante, em meados de 1990 com o fim da DDSG o navio foi vendido para a OGEG, que até hoje administra o Schönbrunn com o propósito de realizar cruzeiros turísticos pela Áustria e países vizinhos e conservar este veterano na ativa, contando suas histórias para as gerações seguintes.
Mas foi em 2009 que um acidente de manobra de outro navio quase colocou um fim a esta história. Faltando apenas três anos para o centenário do Schönbrunn, ele teve que ser arrastado para um estaleiro e consertado. Mas em 2012 estava presente para seu próprio aniversário e fez diversas viagens neste ano, inclusive para Budapeste, sua cidade natal.
Dentre as glórias, está até a participação no filme Sissi, de 1955. O filme, ou melhor, a trilogia, conta a história dos primeiros anos da imperatriz Isabel, por volta do ano 1850. Vale comentar que o filme ocupa o hall dos filmes de idioma alemão de maior sucesso.
Atualmente o Schönbrunn navega no verão europeu pelo deslumbrante Rio Danúbio a partir da cidade Austríaca de Linz e através do site da OGEG, qualquer visitante pode facilmente vivenciar esta incrível e agradável experiência que é navegar neste traquejado senhor.
A experiência a bordo é um convite a cultura Austríaca, presenteada pela voluntária e apaixonada tripulação que com prazer, cada um cumpre seu importante papel seja limpando, servindo um delicioso café, preparando um legítimo almoço Austríaco ou manejando a sagaz casa de máquinas, que requer a dedicação de ao menos 6 pessoas alimentando e administrando os pistões, potência, direção e temperatura daquela usina de força.
O charmoso som de seu motor é uma música que nunca incomoda seus ocupantes. Na realidade, de uma forma cativante o Schönbrunn combina com tudo aqui. Sua tecnologia parece não contrastar com os castelos, bosques e pequenas cidades que costeiam o Rio Danúbio. Ele está em casa e viajar nele é como ser aceito a um convite para conhecer ao vivo uma experiência histórica.
Aliás, conhecer a Áustria por este angulo evidencia que o país dos Alpes não é somente de Alpes. O Rio Danúbio na Áustria não é somente navegável, como é também “banhável”. A sua margem há uma ciclovia e diversos trechos onde famílias estacionam seus veículos para entrar no rio e brindar os belos dias na natureza que na Áustria, um dos países mais verdes da Europa, atualmente conta com cerca de 47% de seu território protegido e preservado.
Talvez se o azarão Ramon Artagaveytia houvesse apostado no Schönbrunn como o navio para se recuperar do trauma, seu final teria sido diferente.
Como viajar no Schönbrunn?
O ingresso pode ser comprado online no site da OGEG.
https://www.oegeg.at/termine/termine-schifffahrt/
As saídas, quase sempre são da cidade Austríaca de Linz. De um píer próximo ao centro histórico da cidade.
A duração das viagens variam de acordo com a programação disponível na cidade e não é recorrente. Portanto consulte o site antes de programar a sua viagem.
A OGEG, acrônimo para Österreichische Gesellschaft für Eisenbahngeschichte que significa algo como Sociedade Austríaca para história ferroviária, foi fundada em 1971 na própria Linz, para preservar as locomotivas do pais e adotou o Schönbrunn. A entidade não tem fins lucrativos e toda a tripulação do Schönbrunn é composta por voluntários. Há até uma brasileira no grupo!
Portanto, não deixe de presenteá-los com uma gorjeta hein! Afinal, não é só de máquinas que se faz o progresso, não é?
Referências:
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