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“É incrível a superação de que somos capazes quando seguimos com calma, cuidado e resiliência. A chegada é de uma paz inexplicável” Vanessa da Silva Mendes Ferreira – 10/04/2016 – Livro do Cume/Capim Amarelo.

Um certo dia, sem que nem pra que, encontrei uma palestra no meio do caminho. Esta palestra de aventureiros falava sobre uma subida de montanha, e eu mais que rapidamente, sem uma segunda pergunta resolvi integrar o grupo. E lá fui eu, rumo ao Capim Amarelo, uma montanha, na entrada da Serra Fina. Minha primeira montanha.

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Talvez, uma de minhas maiores lições no controle da minha ansiedade e no enfrentamento dos obstáculos da vida tenha se dado durante esta que foi a minha primeira subida de montanha.

Trilheira por amor, mas impulsiva e despreparada, topei a empreitada sem calcular muito o esforço, a dificuldade e as intempéries que estão nas entrelinhas de uma experiência como estas.

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Sem calcular que uma subida de montanha não é uma trilha qualquer, e sem me atentar para os motivos que justifiquem que um trekking como este signifiquem uma velocidade média de 1km/hora, me joguei na aventura. Segui, em uma sexta-feira a noite, sem muitas informações e confiando apenas no GPS para chegar a pousada de onde sairíamos na manhã seguinte e que eu, na minha irresponsabilidade aventureira, nem sabia para que lado ficava, até a hora da viagem.

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Hoje, no conforto de meu sofá posso dizer que não estava preparada para enfrentar aqueles 7km de subida. Não tinha noção do esforço fisico que significa uma trilha de 7km, com 900 metros de variação de altitude, percorridos em 7 horas, com 16 kg de bagagem nas costas.

Pela primeira vez na minha vida de bicho do mato me perguntei, em alguns momentos, o que estava fazendo ali. Por que? Porque estava naquele caminho, porque aquele sacrifício, aquele esforço que por vezes parecia estar além da minha capacidade.

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No entanto, este mesmo longo caminho me ensinou coisas que as trilhas que tinha percorrido até então não tinham como me ensinar. A minha primeira subida de montanha foi um pouco como uma pequena amostra da vida, do dia a a dia que se vive na cidade ou no mato.

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Assim como na vida, a subida de uma montanha te mostra que nem sempre você está preparado como deveria. E, também como na vida, a subida de uma montanha não espera que você esteja preparado, e não se torna mais simples ou menos desafiadora para que você se prepare melhor. Assim com a vida, a subida de uma montanha não se adapta aos nossos limites, ela simplesmente é como é, e nós é que precisamos nos adaptar a ela.

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Por vezes, durante o percurso, bem no meio do caminho temos a nítida sensação de que não conseguiremos seguir adiante. No entanto, é mais do que claro que não temos mais como voltar, nem tão pouco como parar ali. Na subida de montanha, assim como na vida, a única opção é seguir em frente, sem saber se vamos conseguir, sem saber se vamos sobreviver, sem saber se tudo dará certo. Sem saber o quanto o resto do caminho irá nos custar, física e emocionalmente.

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E é ali, no meio da confusão e do cansaço mental e físico, que a mente começa a buscar estratégias para que possamos seguir adiante e chegar ao cume. E foi assim, ali, na minha primeira conquista de montanha, que entendi real conceito de CARPE DIEM. Um conceito, na minha adolescência, super presente nas várias colocações rebeldes e vanguardistas, mas até então pouco vivido na prática. O que em vida sempre foi teoria, em uma subida de montanha se tornou uma lei de sobrevivência.

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Para sobreviver, decidi não olhar para o horizonte, não mirar diretamente o cume que tanto desejava. Aprendi a desejar o cume com a alma, a sentir e desejar o cume, mas com os olhos calcular apenas o próximo passo, observar apenas o lugar seguro em que colocaria o meu pé no próximo segundo. Aprendi a me ater apenas ao próximo movimento, dar o próximo passo de forma segura e exata, com calma, precisão e sabedoria.

Para sobreviver e vencer a incerteza, foi preciso me desapegar do destino, e me concentrar na certeza de que, passo a passo, em algum momento o objetivo final seria alcançado. Para alcançar o cume, foi necessário me desapegar dos planos e métricas e não saber em quanto tempo, com que esforço total ou em que ponto exato do caminho o objetivo estaria cumprido.

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Assim como na vida, para conquistar o Capim Amarelo, foi necessário tomar cuidado com cada passo, e saber que a soma de todos eles me levaria, inevitavelmente, ao objetivo maior. Viver apenas e somente cada instante, e confiar que a soma de todos eles me levariam ao cume.

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Perceber a dimensão final da conquista, sem jamais planejar mais do que pequenos movimentos, é a grande lição da montanha para nós, um aprendizado contínuo para seres ansiosos que queremos tanto e sempre chegar, sem entender que chegar é apenas a soma dos infinitos movimentos que muitas vezes passam desapercebidos.