Água: substância química composta de hidrogênio e oxigênio, essencial a todas as formas de vida conhecidas na Terra e fora dela. Sim, fora dela. Ela é nosso padrão do elemento base da vida que buscamos nas missões fora do planeta.
A água é também referência para medidas. O litro e o quilo são originalmente medidos a partir dela. O quilograma representa o peso para 1 litro de água, enquanto 1 litro é a quantidade de água que cabe em 1 dm³, ou 1 decímetro cúbico.
A água também está na temperatura. A medida Celsius (denominada por Anders Celsius em 1742) determinou o uso da água como referência, sendo que no ponto 0°C ela se altera do estado líquido para sólido e, no ponto 100°C, se altera de estado líquido para gasoso.
A água que escoa no sentido horário no polo Norte e anti-horário no polo Sul.
Àquela que tão eficiente na contenção do poder radioativo do urânio, separando-o de nós, nos dá a certeza de seu potencial, sua exclusividade.
Àquela que, enquanto líquida e naturalmente límpida, se molda a qualquer recipiente e ambiente preenchendo todos os espaços disponíveis. Referência utilizada até nas artes marciais, como dizia Bruce Lee, “be water, my friend”.
Mas e a tal vida plena?
Pensando analogamente, se os relacionamentos fossem tratados como água entenderíamos que o aprisionamento só leva a propagação de organismos e a falta de dinamicidade leva a podridão, até o momento que não há mais utilidade. Pura, constante e límpida enquanto livre, passaria a ser podre, desnecessária e inútil se contida.
Se pensarmos em nossa vida financeira e compararmos com a água, acabamos por perceber que dinheiro parado não faz nada, mas enquanto em movimento ele traz a vida! Assim como a água que, se acumulada sem objetivo, apodrece. A fluidez é necessária para a preservação saudável da água e do dinheiro e ambos só devem ser “desviados” para nossos interesses quando a finalidade está relacionada à vida ou desenvolvimento. Um grande objetivo muitas vezes precisará de dinheiro como alimento para permitir sua construção e criação. Mas o simples acúmulo nunca trará equilíbrio e realização.
Viver em função de acumular riquezas poderia ser compreendido como viver para acumular água. A mesma água que precisamos para viver não seria útil se acumulada sem um propósito.
O dinheiro em nossa sociedade, assim como a água, precisa do dinamismo, da troca e da circulação para que seja de fato validado. O dinheiro é considerado métrica de poder, de riqueza individual, e utilizado entre nações ou pessoas para medir o potencial de seus possuidores. O mesmo dinheiro também é elemento de definição de qualidade de vida por tantos, muitas vezes tratado como água no deserto por aqueles que estão com sede de viver melhor, de viver algo que não vivem hoje.
Esta analogia valida a ideia de que acumular riquezas não define o quão positiva será nossa vida.
A água flui…
E a fluidez é a chave para entender que, tanto para a água como para o dinheiro, nossos objetivos não podem estar presos no que, na verdade, não passa de insumo para nossa realização. Se nossos corações clamam por realizações, sucesso, amor, plenitude e felicidade, não será no acúmulo do insumo que ele será satisfeito, assim como não é no acúmulo de água que a sede se extingue. O resultado do acúmulo resolve nossa ambição a curto prazo, mas à medida que a água apodrece ou que nossa satisfação pelo acúmulo do insumo perde sentido, sentiremos a falta do que realmente faz falta: a realização dos objetivos que poderiam ser construídos com aquele insumo.
A sede nada mais é que a nossa fisiologia clamando pela falta do que é essencial a nossa sobrevivência. Mas a partir do momento que nossas necessidades básicas forem supridas, nossos anseios passarão para os próximos passos. Seria como Abraham Maslow explica majestosamente na conhecida Pirâmide de Maslow (1943). À medida que satisfazemos a base dos elementos de sua pirâmide (necessidades fisiológicas, de segurança e sociais/amor, respectivamente), vamos subindo até a tão clamada autorrealização.
Para alguns o dinheiro atende somente até a necessidade de segurança, enquanto que para outros segue até o final da pirâmide, na autorrealização. A questão é que, na verdade, ele não é elemento de realização. Ninguém conseguirá se realizar com dinheiro, assim como não se realizam com oxigênio. Crenças como a de que com o dinheiro se compra o que te faz feliz tornam-se sem propósito, pois o indivíduo muitas vezes nem sabe ou nem se lembra daquilo que seria comprado.
A questão lúdica de “primeiro ter o insumo para depois pensar no objetivo” é tão limitadora que faz com que tantos busquem fórmulas mágicas de resultados financeiros imediatos para justificar o objetivo de sua existência, de suas ações. A loteria, a riqueza espontânea e a pobreza não são fatores determinantes de realização pessoal, assim como explica Martin E. P. Seligman em seu livro, Felicidade Autêntica. A fórmula para a felicidade não consiste em ter dinheiro, consiste no resultado de G + C + A, onde G = genética e tem influência de 10% à 15%; C = circunstâncias da vida que equivalem de 15% à 25% e A = atitudes intencionais e individuais, que influenciam de 60% a 75% na felicidade de um indivíduo.
A fórmula da felicidade
Talvez seja viver intensamente a maior aventura de sua vida, seu maior sonho, sempre respeitando seus valores para que tenha orgulho do legado que construiu e conquistou (deixo claro que não falo sobre bens ou posses). É preciso entender que o dinheiro é como água e só será útil como insumo se houver algo concreto que dependa dele.
Na frase de Thomas Edward Lawrence no épico filme e livro Lawrence da Arábia: “Existem dois tipos de sonhadores. Existem aqueles que sonham enquanto dormem, mas também existem aqueles perigosos sonhadores que vivem seus sonhos enquanto acordados”. A estes, certamente, a água, o dinheiro, o acúmulo ou qualquer forma limitada de satisfação momentânea nunca foram seus objetivos. A estes, por certo, cada um à sua forma, aprenderam que é na fluidez que se constrói a vida pela qual vale a pena ser vivida, naquela em que é possível, de fato, viver seus sonhos.
Revisão de texto: Lais Tellini (MTB 65307SP)