Berço das principais nascentes do Brasil, a Chapada dos Veadeiros dispõe de um dos mais ricos ecossistemas no mundo.
Galhos retorcidos, pedras quebradiças, sol quente, água pura nascendo timidamente sob o solo impermeável e duro. O verde insistente mesmo sob a escassez de chuva das épocas de seca e deslumbrante nas épocas de chuva, fazem do cerrado de altitude encontrado na Chapada dos Veadeiros, um refúgio de rara beleza natural.
“As gotas de vida que brotam na Chapada dos Veadeiros, semeiam sonhos e realizações que sempre estiveram ali, no cantinho do coração, esperando para serem cultivadas.“ Assim, a Caixa D’água do Brasil, desnorteia os visitantes que se perdem a tantas oportunidades de passeios e locais a serem visitados nos ocasionalmente curtos períodos que muitos de nós aproveitam.
Neste roteiro de 4 dias pela Chapada dos Veadeiros, o foco não serão as cachoeiras mais populares nas redes sociais. A proposta aqui é de um roteiro mais infalível, que te levará a sair da Chapada sentindo que viveu os melhores 4 dias possíveis neste paraíso.
Há trilhas que são longas e exigem preparo, mas há também as trilhas que são bem curtas e oferecem acessibilidade. A variedade de cachoeiras parece teimar para que até os mais resistentes não resistam. Grandes, pequenas, claras, escuras, altas, baixas, com poço enorme, sem poço, rasas, profundas. Cachoeira é o que não falta e se alguém diz conhecer todas, desconfie. Há sempre algum canto ainda não explorado escondendo algo.
Devo ir de carro?
Se possível sim! Tudo fica muito mais fácil e talvez até barato. Este roteiro não tem locais de acesso restrito a veículos mais preparados. Então na maior parte do ano, qualquer carro de passeio pode acessar tudo.
Mas se você não tem carro, não há problemas. Vários guias possuem veículos e preferem utilizar seus próprios veículos. Neste caso a dica é juntar uma “turminha”, na hospedagem mesmo, para que o custo não eleve muito individualmente.
Quando ir?
O melhor período de visitação da Chapada é fora do período de chuvas. Contudo, se for no final do período de seca, muitas cachoeiras podem ficar bem mais fracas. A melhor época, portanto, é de março a julho. Quando, parafraseando Tom Jobim, “as águas de março fecham o verão e começam as promessas de vida na Chapada e no Coração”.
Posso ir sozinho(a)?
Absolutamente sim. No geral a chapada é um território seguro. Óbvio que parte desta segurança está em nossas atitudes em evitar as exposições desnecessárias ao risco, mas agindo dentro da normalidade, não há o que temer.
Onde dormir?
Apesar de o vilarejo de São Jorge ser mais popular, este roteiro está mais centralizado em Alto Paraíso. Portanto, vale a pena ficar na cidade, que além de ótimas opções gastronômicas, oferece excelente opções de hospedagem.
Opções de hospedagem em Alto Paraíso.
Opções de hospedagem em São Jorge.
O que levar na trilha
Sempre é recomendável que na trilha a calça seja comprida. O motivo é simples. Evitamos assim insetos, arranhões e em um eventual escorregão, nenhum corte profundo aconteça. Não é comum, mas em caso de contato com algum animal peçonhento, a calça pode evitar ajudar na segurança.
- Calça comprida e confortável.
- Roupa de caminhada.
- Mochila pequena para alimentos e itens básicos como capa de chuva, remédios, protetor solar etc.
- Alimento para o dia de trilha. Comidinhas leves e nutritivas como granola, frutas secas, barra de proteína etc.
- Garrafa de água. Pode ser pequena, água potável não faltará nos trajetos.
- Chapéu ou boné.
- Esparadrapo por precaução.
- No período de chuvas, deixe sempre uma capa de chuva na mochila.
Preciso de guia?
Teoricamente não, quando pensamos somente no caminho. Mas a menos que você saiba como lidar no caso de encontrar um animal peçonhento no seu caminho ou reconheça instintivamente os sinais das fatais cabeça d’água, talvez o guia faça diferença entre a segurança e a sorte. Além disso, em cada uma das atrações há diferentes formas de diversão que os guias podem ajudá-lo a aproveitar ao máximo.
Leia mais em 10 razões para contratar um guia e decida consciente.
Para encontrar um guia basicamente há três formas infalíveis.
- Pergunte na pousada. Elas costumeiramente indicam guias parceiros da pousada, o que costuma ser bom porque você nem precisa sair da pousada para fazer o contato ou encontrá-lo.
- Vá ao CAT (Centro de Atendimento ao Turista). Em Alto Paraíso fica na Av. Ari Valadão Filho, 1310, na esquina com a rua Pé de Serra. Não tem erro e lá se obtém muita informação sobre a região.
- Agência de turismo da região. Na própria Av. Ari Valadão Filho, tem a agência Travessia. É a mais antiga agência de esporte da cidade e possui os guias com maior conhecimento aventureiro da região. Na mesma avenida há também outras agências.
Roteiro
Vamos ao roteiro? A cada dia vou explicar o roteiro sugerido e por quê. A indicação de caminho para algumas atrações não será exata e avisarei vocês quando não for. Isso porque alguns detalhes importantes podem variar e não quero que ninguém se perca. Mas no CAT dá para esclarecer o “como chegar” e sim, usando o simples Google Maps pode ajudar também.
Dia 1
Roteiro do Rio São Miguel
Guia: Não necessário
O roteiro do Rio São Miguel é justamente visitar as atrações deste rio. São Miguel, o anjo que nos protege das ciladas do demônio tem em seu rio uma morada no mínimo curiosa, que embora possa ser voraz nos períodos de chuva, não é em nada demoníaca.
O rio São Miguel alimenta as atrações Vale da Lua, Raizama e Morada do Sol. Geologicamente a formação deste afluente é uma das primeiras regiões a se solidificarem no planeta, o que explica o leito rochoso e delicadamente desenhado pela água.
Neste dia, não há necessidade de guia, pois os locais já oferecem algumas instruções. mas evite se houver qualquer sinal de chuva no dia. Pela característica impermeável das rochas no leito deste rio, o risco de tromba d’água é elevado. Então se o céu estiver com sinais de chuva, fique atento as instruções. Ao mesmo, procure os dias mais secos possível para encontrar a água transparente. Este local tem uma das águas mais limpas que já vi nestes períodos.
1) Primeiro o Vale da Lua
Vá cedo, chegar por volta das 9h fará com que o Vale da Lua seja todo seu. Um bom passeio aqui dura em torno de 3 horas. A trilha é bem curta e fácil para todas as idades.
Oriente-se antes de descer para o vale. Pergunte sobre o que eles recomendam conhecer antes, vale a pena.
O pastel é quase parada obrigatória antes de prosseguir ao próximo destino.
Como chegar: Pegue a estrada que liga Alto Paraíso a São Jorge (GO 239) e após a montanha da Baleia fique atento nas curvas a direita aos acessos que estarão na esquerda da estrada. Estará sinalizado.
Rota: (clique aqui)
Trilha: Fácil (< 1km)
Custo: R$ 20 por pessoa
Tempo ideal de passeio: 2 a 4 horas.
2) Agora é a vez do Raizama
Cerca de 10km de distância após o Vale da Lua o levam até o Raizama. A trilha a pé tem entre 2 e 3 km. Boa parte plana, mas próximo ao rio ela fica mais íngreme e faz uma volta, ou seja, descemos por um caminho e retornamos por outro. Haverá vários pontos para foto e o melhor poço de banho é o último. Quem for com criança, fique atento. Apesar das cercas de proteção, a exposição a altura em alguns momentos pode ser perigosa para os pequenos desavisados. É um local mágico de tão belo.
O mirante no fim do desfiladeiro é lindo! A cachoeira neste ponto, a qual mau podemos ver o fim, tem aproximados 40mts.
O melhor local de banho é por onde a trilha desceu. Após a visitação ao mirante, volte pelo mesmo local e siga até as piscinas lá atrás.
Cuidado no Raizama. É lindo, é seguro, mas não aceita brincadeiras.
Como chegar: Siga a estrada GO 239 sentido São Jorge e passe de São Jorge. Pouco mais adiante haverá o acesso a esquerda.
Rota: (clique aqui)
Trilha: Moderada (3km)
Custo: R$ 20 por pessoa
Tempo ideal de passeio: 3 a 4 horas.
3) E onde fica a Morada do Sol?
Seguindo a mesma estrada pouco mais adiante, também a esquerda, haverá uma casa que recepciona os visitantes. Há discretas placas indicando que ali é a Morada do Sol. Após a recepção, você segue de carro até bem próximo ao rio.
O poço de banho tem vários “cantinhos” muito agradáveis de hidromassagem natural. Há também uma cachoeira linda no leito do rio abaixo, que podemos ver por cima.
É aqui que o sol se esconde. O nome do local é porque no fim do dia o sol reflete nas rochas formando um cenário pacífico e atraente.
Como chegar: Siga a estrada GO 239 sentido Colinas e depois do acesso ao Raizama, siga mais cerca de 3 quilômetros atento ao discreto acesso a esquerda para a Morada do Sol.
Rota: (clique aqui)
Trilha: Fácil (250 metros)
Custo: R$ 20 por pessoa
Tempo ideal de passeio: 1 a 2 horas.
Se o tempo permitir
Visite pouco mais adiante as Águas Termais. É um local agradável com piscinas aquecidas naturalmente pela profunda nascente de água. O local tem uma boa estrutura, restaurante e até uma sauna úmida ao lado das piscinas.
Rota (clique aqui)
Para finalizar o dia
Volte para São Jorge e permita-se conhecer os restaurantes locais. A criatividade na gastronomia aqui rende pratos deliciosos. Chega a ser difícil escolher e há opções para todos os gostos.
Aqui você encontra algumas sugestões, mas o meu preferido mesmo é um chamado Risoteria. É mais caro, mas os risotos são deliciosos.
Dia 2
Macaquinhos!
Guia: Recomendável
Pense num local incrível onde o rio forma cachoeiras maravilhosas de água azul transparente muito pura em um visual cênico inspirador. Não há como resistir a estas cachoeiras. O local tem basicamente quatro cachoeiras, sendo a última a cachoeira do encontro. Cavernas, poços para saltos, fendas, escorregador, hidromassagem e muito visual pelo cerrado. Para mim o Macaquinhos é especial!
Aproveite as cachoeiras na ordem que as encontrar. Só não demore para ir a última, pois é a primeira a esfriar com o entardecer.
Como chegar: Pegue a estrada, sentido de volta a Brasília por mais ou menos 18km e fique atento a primeira entrada a esquerda logo após uma grande descida de mais de 2km descendo. Haverá sinalização para os Macaquinhos. Aliás, não se confunda entre Macaquinhos e Macacos. Macacos é uma cachoeira maravilhosa, mas o acesso exige veículo adequado na maior parte do ano. Siga para Macaquinhos na estrada de terra por cerca de 35km. Vá com calma e atento as discretas sinalizações a cada bifurcação.
Já após aproximados 30km, se você avistar uma cruz no alto de um morro, pare na cruz. Procure uma trilha ali, poucos metros adiante haverá um mirante incrível onde dá para avistar as montanhas que separam Goiás e o sul da Bahia.
O acesso ao Macaquinhos costuma ser complicado no início da volta. Repare o caminho para na volta para estar prevenido se necessário.
Trilha: Moderada (8km)
Custo: R$ 20 por pessoa
Tempo ideal de passeio: de 5 a 8 horas – considere o dia todo
Recomendação: Leve comida, não há nada para comer durante o dia lá
Para finalizar o dia
Em Alto Paraíso, que tal aproveitar um jantar com massa italiana artesanal? A Massa da Mamma é um restaurante intimista de um casal de italianos que se mudaram para a região e moram na mesma casa há mais de 20 anos. Veja mais aqui.
Dia 3
Catarata dos Couros
Guia: Recomendável
“Se Deus morasse na Terra, é aqui que ele moraria.“
E foi assim que me apresentaram as Cataratas dos Couros. Este incrível refúgio do rio dos Couros.
Ao contrário de outras, o melhor aqui é descer até a última cachoeira e aproveitar na volta.
Para os aventureiros, há bastante diversão aqui. O último poço dá acesso por cima de uma cachoeira incrível, mas nesta não dá para descer por trilha. Sempre achei difícil descrever locais tão belos quanto este, então vou resumir novamente com a frase: “Se Deus morasse na Terra, é aqui que ele moraria.”
Como chegar: O caminho não é bem sinalizado e há várias bifurcações no trecho de terra. Você deve dirigir sentido Brasília pela GO 118 e distante em torno de 10km e entra a direita. Geralmente há uma placa sinalizando ou a Catarata dos Couros ou a comunidade Cidade da Fraternidade. Na terra são mais cerca de 35km. Siga na estrada e fique atento, assim que ver a placa da Cidade da Fraternidade, siga em frente e pegue a primeira bifurcação a direita. Após isso na próxima bifurcação, pegue a esquerda. Atualize-se sobre as instruções na pousada ou CAT para evitar enganos. É importante se informar!
Trilha: Difícil (6km)
Custo: Liberado (porém as vezes há guias no local oferecendo um roteiro mais completo. Pode valer a pena se a verba permitir)
Tempo ideal de passeio: 5 a 6 horas.
Dia 4
Roteiro do Rio dos Couros pela Fazenda São Bento
Guia: Não necessário
O Rio dos Couros leva este nome porque ele nasce no vale dos Couros, que é um vale próximo a Pouso Alto, o ponto mais alto da Chapada dos Veadeiros. Local onde há muitas cobras e, portanto, muito couro de cobra.
A Fazenda São Bento por sua vez, tem rica história na região. Fundada antes da era de proteção ambiental, começou como uma marcenaria, com a fundação do parque encontrou no turismo a sua fonte de renda. Agora o Hotel Fazenda São Bento. Segue o estilo colonial que nos faz esquecer que estamos no cerrado por alguns instantes.
A sede dá acesso a estrada que levas as cachoeiras São Bento, Almécegas I e Almécegas II. Há outras atrações também como um ponto de tirolesa, mas as cachoeiras em si são o espetáculo desta visita.
Como chegar: Sentido São Jorge, fica a 8km de Alto Paraíso. Entre na fazenda São Bento e obtenha as instruções na recepção.
Custo: R$ 60 por pessoa (é a atração mais cara da chapada)
Tempo ideal de passeio: 3 a 4 horas.
Cachoeira Almécegas I
A trilha mais difícil de todas, cerca de 3km com os últimos metros bem íngremes. A bronzeada água inquieta, talvez pelos 40 metros de queda, ainda convida incessantemente os presentes ao banho. A parede da queda parece até dizer, “cheguem mais perto”, e assim, encarando a água fria, pisando descalço com dificuldades nas desconfortáveis pedras na beira do poço, somos tentados a atender seu convite.
Trilha: Moderada (6km)
Cachoeira Almécegas II
De carro se chega bem próximo a cachoeira. O acesso é muito simples e na trilha praticamente não há inclinação alguma. No canto direito, um espaço parece que desenhado para os ousados saltadores caírem em suas águas. As pedras contam com coloração bronze que enriquecem o visual.
Trilha: Fácil (< 1km)
Cachoeira São Bento
A cachoeira que está no circuito do campeonato nacional de Polo Aquático. A água parece tão refrescante quanto uma coca cola gelada. A direita do poço, uma parede de rochas que são uma verdadeira escola para quem quer aprender a criar coragem de pular na água. Dá para saltar de várias alturas com o único risco de dar a inexperiente barrigada. Um deleite para a despedida da Chapada dos Veadeiros. O fácil acesso nos convida sempre a retornar aqui.
Trilha: Fácil (< 1km)
Para finalizar o dia
O barzinho na recepção da Fazenda oferece cerveja artesanal muito saborosa produzida na região. Há também torradas de pão integral servidas ao azeite temperado.
Contudo, para encerrar com chave de ouro, vale a pena dirigir sentido São Jorge até o Rancho de seu Waldomiro. Fica na “cabeça” da montanha da Baleia no sentido São Jorge. Lá o seu Waldomiro encanta com suas histórias ou estórias sobre as luzes que ele não acredita, mas vê saindo da mágica montanha da Baleia. A Matula, receita local, prato de feijão cozido nas folhas de bananeira é seu “carro chefe”, acompanhado dos incontáveis sabores de licor preparados ali mesmo com os sabores do cerrado.
Informações úteis:
- CAT (Centro de Atendimento ao Turista)
Av. Ary Valadão Filho, 1.100 – Alto Paraíso de Goiás – Tel.: (62) 3646-1159:
Em todas as cidades da Chapada dos Veadeiros há um CAT. - Rodoviária de Alto Paraíso: (62) 3646-1359
- Não há ônibus comercial entre Alto Paraíso e São Jorge.
- Site Guia Alto Paraíso.
- As cidades que ficam dentro do território da Chapada dos Veadeiros são: São João D’Aliança, Alto Paraíso (e o vilarejo de São Jorge) e Cavalcante.
- Não confundir a região geográfica da Chapada dos Veadeiros com o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Veja mais aqui.
- Período de chuvas: de dezembro a março.
- Período de muita seca: agosto a outubro.