Berço das principais nascentes do Brasil, a Chapada dos Veadeiros dispõe de um dos mais ricos ecossistemas no mundo.

Água
Galhos retorcidos, pedras quebradiças, água pura nascendo timidamente sob o solo impermeável e duro. O verde insistente mesmo sob a escassez de chuva das épocas de seca ou deslumbrante nas épocas de chuva, fazem do cerrado de altitude o refúgio de rara beleza natural.
“As gotas de vida que brotam na Chapada dos Veadeiros, semeiam sonhos e realizações que sempre estiveram ali, no cantinho do coração, esperando para serem cultivadas.“ Assim, a Caixa D’água do Brasil, desnorteia os visitantes que se perdem a tantas oportunidades de passeios e locais a serem visitados nos tradicionalmente curtos períodos que podemos viajar.
Neste roteiro de 4 dias pela Chapada dos Veadeiros, o foco não serão as cachoeiras atualmente populares nas redes sociais. A proposta aqui é de um roteiro, talvez alternativo, que resultará na certeza de que mesmo não vendo tudo, tudo que foi visto nestes 4 dias, foi vivido da melhor maneira possível.

Trilha no Raizama
Há trilhas que são longas e exigem preparo, mas há também as trilhas que são bem curtas e podemos chegar de carro muito próximo as atrações. A variedade de cachoeiras parece teimar para que até os mais resistentes não resistam. Grandes, pequenas, claras, escuras, altas, baixas, com poço enorme, sem poço, rasas, profundas. Cachoeira é o que não falta e se alguém diz conhecer todas, desconfie. Há sempre algum canto ainda não explorado escondendo algo.
Preparando a viagem

A caminho do Macaquinhos
Devo ir de carro? Se possível sim! Tudo fica muito mais fácil e talvez barato. Este roteiro não tem locais de acesso restrito a veículos mais preparados. Então na maior parte do ano, qualquer carro de passeio pode acessar tudo.
Mas se você não tem carro, não há problemas. Vários guias possuem veículos e preferem utilizar seus próprios veículos. Neste caso a dica é juntar uma “turminha”, na pousada mesmo, para que o custo não eleve muito individualmente.
Onde dormir?

Noite na Chapada dos Veadeiros
Apesar de o vilarejo de São Jorge ser mais popular, este roteiro está mais centralizado em Alto Paraíso. Portanto vale a pena ficar na cidade, que além de ótimas opções gastronômicas, oferece diversas opções de hospedagem e noites mais tranquilas.
Opções de hospedagem em São Jorge.
Opções de hospedagem em Alto Paraíso.
O que levar na trilha
Sempre é recomendável que na trilha, a calça seja comprida. O motivo é a gosto do freguês. Podem ser simplesmente para evitar os insetos, ou para que pequenos galhos não raspem na perna, também podem ser para que em um eventual e provável escorregão, nenhum corte profundo aconteça, poderíamos também pensar na eminencia de algum animal peçonhento, mas vamos deixar os motivos mais tensos de fora né, sem apelação.
- Calça comprida e confortável.
- Roupa de caminhada.
- Mochila pequena para alimentos e itens básicos como capa de chuva, remédios, protetor solar etc.
- Alimento para o dia de trilha. Comidinhas leves e nutritivas como granola, frutas secas, barra de proteína etc.
- Garrafa de água. Pode ser pequena, água potável não faltará nos trajetos.
- Chapéu ou boné.
- Esparadrapo por precaução.
Preciso de guia?

Flores do Cerrado
Teoricamente não, quando pensamos somente no caminho. Mas a menos que você saiba como lidar no caso de encontrar um animal peçonhento no seu caminho ou reconheça instintivamente os sinais das fatais trombas d’água, talvez o guia faça diferença entre a segurança e a sorte. Além disso, em cada uma das cachoeiras há diferente formas de diversão que os guias podem ajudá-lo a aproveitar ao máximo.
Leia mais em 10 razões para contratar um guia e decida consciente.
Para encontrar um guia basicamente há três formas infalíveis.
- Pergunte na pousada. Elas costumeiramente indicam guias parceiros da pousada, o que costuma ser bom porque você nem precisa sair da pousada para fazer o contato ou encontrá-lo.
- Vá ao CAT (Centro de Atendimento ao Turista). Em Alto Paraíso fica na Av. Ari Valadão Filho em frente ao Grande Hotel Paraíso. Não tem erro e lá se obtém muita informação sobre a região.
- Agência de turismo da região. Na própria Av. Ari Valadão Filho, tem a agência Travessia. É a mais antiga agência de esporte da cidade e possui os guias com maior conhecimento aventureiro da região. Na mesma avenida há também outras agências.
Roteiro

Estrada Sao Jorge – Alto Paraiso
Vamos ao roteiro? A cada dia vou explicar o roteiro sugerido e porquê. O objetivo deste roteiro é expor você a uma viagem inesquecível na Chapada dos Veadeiros informando as atrações certas para estes 4 dias na região. A indicação de caminho não será exata porque elas podem variar com o tempo em detalhes importantes. Mas no CAT dá para esclarecer o “como chegar”.
Dia 1
Roteiro do Rio São Miguel

Vale da Lua
O roteiro do Rio São Miguel é justamente visitar as atrações deste rio. São Miguel, o anjo que nos protege das ciladas do demônio tem em seu rio uma morada no mínimo curiosa, mas de nada demoníaca.
O rio é o afluente das atrações Vale da Lua, Raizama e Morada do Sol. Geologicamente a formação deste afluente é uma das primeiras regiões a se solidificarem no planeta, o que explica o leito rochoso e delicadamente esculpido pela água.
O guia aqui é recomendável. Pela característica impermeável das rochas, o risco de tromba d’água é elevado. Mas nos próprios locais costumam haver instruções ou restrições para proteger os visitantes. Além disso, os guias orientam sobre os “cantinhos atrevidos” que podemos ou não entrar para desfrutar melhor da região. Um mergulho atravessando dois poços, hidromassagem embaixo da rocha, escorregador natural, entre outros “segredinhos” fascinantes.
Primeiro o Vale da Lua

Vale da Lua
Vá cedo, chegar por volta das 9h fará com que o Vale da Lua seja todo seu. Um bom passeio aqui dura em torno de 3 horas. A trilha é bem curta e fácil para todas as idades.
Oriente-se antes de descer para o vale. Pergunte sobre o que eles recomendam conhecer antes, vale a pena.
O pastel é quase parada obrigatória antes de prosseguir ao próximo destino.
Como chegar: Pegue a estrada que liga Alto Paraíso a São Jorge e após a montanha da Baleia fique atento aos acessos a esquerda. Estará sinalizado.
Trilha: Fácil (1km)
Custo: R$ 15 por pessoa
Tempo ideal de passeio: 2 a 3 horas.
Agora é a vez do Raizama

Raizama
Cerca de 10km de distancia, parte de asfalto, o levam até o Raizama. A trilha tem entre 2 e 3 km. Boa parte plana, mas próximo ao rio ela fica mais íngreme. Quando chegar ao rio, antes de descer para o local de banho, siga a trilha beirando o desfiladeiro pela parede. Mesmo com a proteção local, cuidado para não escorregar e olhe antes de apoiar! Aqui é o habitat de pequenas aranhas e lagartas de fogo.
O mirante no fim do desfiladeiro é lindo! A cachoeira neste ponto, a qual mau podemos ver o fim, tem aproximados 40mts.
O melhor local de banho é por onde a trilha desceu. Após a visitação ao mirante, volte pelo mesmo local e siga até as piscinas lá atrás.
Cuidado no Raizama. É lindo, é seguro, mas não aceita brincadeiras.
Como chegar: Siga a estrada sentido São Jorge, o acesso fica a esquerda pouco depois de São Jorge.
Trilha: Moderada (3km)
Custo: R$ 20 por pessoa
Tempo ideal de passeio: 2 a 3 horas.
E onde fica a Morada do Sol?

Morada do Sol
Seguindo a estrada, após passar São Jorge por mais aproximados 5km. A sua esquerda haverá uma casa que recepciona os visitantes. Há discretas placas indicando que ali é a Morada do Sol.
De carro chega-se muito perto do rio São Miguel. Informe-se na entrada.
O poço de banho tem vários “cantinhos” muito agradáveis de hidromassagem natural. Há também uma cachoeira linda no leito do rio abaixo, que podemos ver por cima.
É aqui que o sol se esconde. Leva este nome porque no fim do dia o sol reflete nas rochas formando um cenário pacifico e atraente.
Trilha: Fácil (1km)
Custo: R$ 15 por pessoa
Tempo ideal de passeio: 2 a 3 horas.
Se o tempo permitir
Visite pouco mais adianta as Águas Termais. É um local agradável com piscinas cuja nascente profunda aquece a água. O local tem uma boa estrutura, restaurante e até uma sauna úmida ao lado das piscinas.

Jardim de Maitreya
Para finalizar o dia
Volte para São Jorge e permita-se conhecer os restaurantes locais. A criatividade na gastronomia aqui rendeu pratos deliciosos. Chega a ser difícil escolher e há opções para todos os gostos.
Dia 2
Macaquinhos!

Macaquinhos
Pense num local incrível onde o rio forma cachoeiras maravilhosas de água azul transparente muito pura em um visual cênico inspirador. Não há como resistir a estas cachoeiras. O local tem basicamente quatro cachoeiras, sendo a ultima a cachoeira do encontro. Cavernas, poços para saltos, fendas, escorregador, hidromassagem e muito visual pelo cerrado. Para mim o Macaquinhos é especial!
Aproveite as cachoeiras na ordem que as encontrar. Só não demore para ir a ultima, pois é a primeira a esfriar mais rápido com o entardecer.
Pegue a estrada, sentido de volta a Brasília por mais ou menos 18km. Fique atento a primeira entrada a esquerda logo após uma grande descida de mais de 2km. Haverá sinalização para os Macaquinhos. Aliás, não se confunda entre Macaquinhos e Macacos. Macacos é uma cachoeira maravilhosa, mas o acesso exige veículo adequado na maior parte do ano. De terra, serão cerca de 35km. Vá com calma e atento as discretas sinalizações a cada bifurcação.

Macaquinhos
Já após aproximados 30km, você passará pelo ultimo portão e nele verá um horizonte a sua direita. Siga um pouco e na cruz, pare. Dá para descer em um mirante incrível. Deste mirante é possível ver as montanhas que dividem Goiás da Bahia.

Macaquinhos
O acesso ao Macaquinhos costuma ser complicado no início da volta. Repare o caminho para na volta estar prevenido, se necessário.
Trilha: Moderada (8km)
Custo: R$ 20 por pessoa
Tempo ideal de passeio: 5 a 8 horas.
Dia 3
Catarata dos Couros

Catarata dos Couros
“Se Deus morasse na Terra, é aqui que ele moraria. “ E foi assim que me apresentaram as Cataratas dos Couros. Este incrível refugio do rio dos couros.
Ao contrário de outras, o melhor aqui é descer até a ultima cachoeira e aproveitar na volta.
Para os aventureiros, há bastante diversão aqui. O ultimo poço da acesso por cima de uma cachoeira incrível, mas nesta não dá para descer por trilha.
Sempre achei difícil descrever locais tão belos quanto este, então vou resumir novamente. “Se Deus morasse na Terra, é aqui que ele moraria.”

Catarata dos Couros
Como chegar: O caminho não é bem sinalizado e há várias bifurcações no trecho de terra. Basicamente se dirige sentido Brasília por 10km e entra a direita. Na terra são mais uns 35km. Atualize-se sobre as instruções na pousada ou CAT para evitar enganos. Poderia descrever o caminho, mas é possível que o induza a erros porque há fazendas na região. Então vale se informar.
Trilha: Moderada (6km)
Custo: Liberado
Tempo ideal de passeio: 5 a 6 horas.
Atenção: O MST invadiu as terras próximas as Cataratas. As vezes cobram pedágio de R$ 5 por pessoa para o acesso as cataratas, que não possuem proprietário oficial. Já os vi fortemente armado, mas nunca ouvi relatos de perigo.
Dia 4
Roteiro do Rio dos Couros pela Fazenda São Bento

Cachoeira Sao Bento
O Rio dos Couros leva este nome porque ele nasce no vale dos Couros, que é um vale próximo a Pouso Alto, o ponto mais alto da Chapada dos Veadeiros. Local conhecidamente com muitas cobras e daí vem o nome.
A Fazenda São Bento tem rica história na região. Fundada inicialmente como uma marcenaria, com a fundação do parque encontrou no turismo a sua fonte de renda. Agora o Hotel Fazenda São Bento. No mais puro estilo colonial, nos faz esquecer que estamos no cerrado por alguns instantes.
A sede dá acesso a estrada que levas as cachoeiras Almécegas I e Almécegas II. Já a cachoeira São Bento fica a pé a 200 mts da sede.
Como chegar: Sentido São Jorge, fica a 8km de Alto Paraíso apenas. Entre na fazenda São Bento e obtenha as simples instruções na recepção.
Custo: R$ 20 por pessoa
Tempo ideal de passeio: 3 a 4 horas.
Cachoeira Almécegas I

Cachoeira Almecegas I
A trilha mais difícil de todas, cerca de 3km com os últimos metros bem íngremes. A bronzeada água inquieta, talvez pelos 40 metros de queda, ainda convida incessantemente os presentes. A parede da queda parece até dizer, “cheguem mais perto”, e assim, pisando descalço com dificuldades nas desconfortáveis pedras na beira do poço, nós vamos aos poucos atendendo seu convite.
Trilha: Moderada (6km)
Cachoeira Almécegas II

Cachoeira Almecegas II
De carro se chega a poucos metros da cachoeira. O acesso é muito simples e na trilha praticamente não há inclinação alguma. No canto direito, um espaço parece que desenhado para os ousados saltadores cairem em suas águas. As pedras com coloração perolada enriquecem o visual.
Trilha: Fácil (< 1km)
Cachoeira São Bento

Cachoeira Sao Bento
A cachoeira que está no circuito do campeonato nacional de Polo Aquático. A água parece tão refrescante quanto uma coca cola gelada. A direita do poço, uma parede de cristais em rocha que são uma verdadeira escola para quem quer aprender a criar coragem de pular na água. Dá para saltar de várias alturas com o único risco de dar a inexperiente barrigada. Um deleite para a despedida da Chapada dos Veadeiros. O fácil acesso nos convida sempre a retornar aqui.
Trilha: Fácil (< 1km)
Para finalizar o dia

Fazenda Sao Bento
O barzinho na recepção da Fazenda oferece cerveja artesanal muito saborosa produzida na região. Há também torradas de pão integral servidas ao azeite temperado.
Para encerrar com chave de ouro, vale a pena dirigir até o Rancho de seu Waldomiro. Fica na “cabeça” da montanha da Baleia no sentido São Jorge. Lá o seu Waldomiro encanta com suas histórias ou estórias do tempo em que caçava onças e sobre as luzes que ele não acredita, mas vê saindo da mágica montanha da Baleia. A Matula, prato de feijão cozido nas folhas de bananeira é seu “carro chefe”, acompanhado dos incontáveis sabores de licor preparados ali mesmo com os sabores do cerrado.

da natureza, nada se leva…
Informações úteis
A época de chuva é de dezembro a março. Nesta época as cachoeiras ficam lindíssimas, mas aumenta-se muito o risco a enxurradas repentinas provocadas pela chuva na cabeceira ou nascentes.
Não há ônibus comercial entre Alto Paraíso e São Jorge.
CAT (Centro de Atendimento ao Turísta)
Av. Ary Valadão Filho, 1.100 – Alto Paraíso de Goiás
Tel.: (62) 3646-1159
Rodoviária de Alto Paraíso: (62) 3646-1359
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